Santiago, será que chegamos?: Dia 7: Burgos - Castrojeriz

Burgos – Castrojeriz - Boadilla

Ontem quando demos entrada no albergue e a senhora da recepção nos disse que no dia seguinte o albergue só abriria as portas às 8 horas, ficamos animados. Se os peregrinos não podem sair antes das 8 de certeza que vão levantar-se mais tarde, e consequentemente nos deixar dormir mais um pouco. Mentira!! Às 6 da manhã os benditos, para não dizer outra coisa, já estavam a levantar e a fazer barulho. Obviamente que com o meu sono leve acordei logo enquanto a Lena, com o seu irritante bem dormir, continuava ferrada! Foi preciso o senhor do albergue vir e chamar por ela: "Toca a levantar preguiçosa!!". Não com essas palavras mas foi o que ele quis dizer, de certeza. Para variar formos os últimos a sair, depois ainda de duas mulheres e uma criança de uns 5 anos que faziam o caminho de bicicleta. O mais engraçado, e que nos chamou logo a atenção, foi reparar na bagagem delas. Uma das mulheres (provavelmente a mãe) levava a criança, numa cadeira própria, na sua bicicleta. A outra levava um alforge exactamente igual ao nosso com a roupa dos 3!!!

Saímos do albergue e reparamos que elas ainda estavam mesmo a porta a entreter a criança. Comentário da Lena: Essas de certeza que não nos passam!!

Começamos a pedalar confiantes, afinal hoje começavam uma série de etapas maioritariamente constituídas por rectas. À Excepção de algumas poucas subidas. Apesar de ter chovido imenso no dia anterior decidimos não seguir pela estrada e mais uma vez sentimos o espírito do caminho e já a notar-se o cansaço acumulado dos restantes peregrinos à pé que ao desejarmos “Buen Camino” apenas tínhamos uns grunhidos ou quando muito um “Gracias” como resposta. Como o caminho era quase sempre recto pudemos apreciar as magníficas paisagens pelas quais íamos passando. Eu só apreciava a paisagem ou então, e maioritariamente, a estrada e a bicicleta da Lena a minha frente. Sem óculos não posso dar-me ao luxo de apreciar os pormenores como o elevador no meio do nada que a Lena avistou (mesmo ao nosso lado).

Hoje queríamos ir sempre pelo caminho, e estávamos confiantes. A dada altura, quando estávamos a fazer umas das poucas subidas, avistamos dois ciclistas pela estrada, onde esta cruzava com o caminho. Comentário mútuo: “Assim também somos campeões!! “. Ao chegarmos ao dito cruzamento, e orgulhosos por irmos continuar pelo caminho, passou e parou um carro e uma senhora grita: “Por el camino no! Por la carretera. El camino está muy malo!”. Não fizemos de rogados. Quem sabe, sabe. E seguimos pela “carretera”. (mordemos a língua… afinal os ciclistas e que sabiam)

Mesmo pela estrada a vista não ficou nada atrás atré que chegamos a um convento antigo convertido em refugio para os peregrinos. Muito muito giro!

Seguimos por mais rectas e descidas até pararmos para almoçar em Castrojeriz e para variar comemos imenso mas sem peso na consciência, afinal teríamos de fazer a única subida da etapa e precisaríamos de energia.

Ao avistarmos a subida ficamos logo apreensivos. Afinal tínhamos retomado o caminho e não sabíamos ir pela estrada.

Logo no início da subida avistamos uns sofás e mais valia ter lá ficado. Nem 20 metros depois tivemos de desmontar da bicicleta e empurrá-las uns bons 2 km a cima.

A descida não foi nada fácil também. Tivemos de ir sempre muito devagar senão chegaríamos a velocidades vertiginosas… mas a rolar!! Continuamos o caminho sempre a sonhar com a estrada. Apesar de não estar chovendo os estragos tinham sido feitos e ainda se sentiam.

Hoje foi o dia em que mais andamos. E embora quase sempre recto a única subida nos matou. Tínhamos como objectivos chegar a Fromista mas 5 km antes passamos por Boadilla del Camino e a Leninha pediu peniquinho dizendo: “não aguento mais. Ficamos aqui ou faço birra!”. Bendita birra! Ficamos no albergue mais giro até agora. Pena a Leninha ter ficado mesmo mal disposta e não termos aproveitado mais e dado uns mergulhitos na piscina.